Oitenta almas presas por catorze dias num vagão à deriva por uma Europa destruída pela guerra. Sem comida, água ou casa de banho. Apartada do marido, trinta e cinco kilos e grávida de 7 ou 8 talvez 9 meses. O comboio pára naquele que era o pior de todos os destinos, o inferno dos infernos. O terror é tanto que o trabalho de parto inicia-se ali mesmo. No caminho entre o comboio e o campo de concentração, nasce um pequeno ser, 1,5 kilos de esperança, era tudo o que bastava. Aquela bebé linda, pura, imaculada veio ao mundo no lugar mais pestilento à face da terra. O destino desta criança e da sua mãe seria a câmara de gás, mas a sorte ditou que o gás acabasse no dia anterior à sua chegada. E a sorte não acabaria aqui, três dias depois chegam os aliados e com eles a liberdade, ou pelo menos a hipótese de uma vida. O cárcere esse permanecerá sempre nas suas histórias.
Este relato é, infelizmente para a humanidade, verídico e, ouvi-lo na primeira pessoa é das experiências mais desconcertantes que podemos ter. Apercebermo-nos do nível de falta de humanidade a que um ser humano pode chegar é aterrorizador para aqueles que cultivam algo chamado consciência. Uma vénia a todos os que, tendo passado pelo inferno, fazem a dolorosa viagem de regresso, contando a sua história para que nós, Homens, não nos esqueçamos do que somos capazes.