Orgulho e (auto) preconceito

 

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 Jorg Wanderer

 

Houve tempos em que achava que orgulho e amor próprio eram uma e a mesma coisa. Até que a vida se encarregou de me mostrar que há diferenças. O orgulho é implacável, definitivo, o orgulho é uma amputação. O amor-próprio é mais paciente, permissivo, o amor-próprio sara. É o orgulho que alimenta o amor-próprio, numa precisa rega gota a gota: demasiada água e tudo se afoga. É assim o orgulho.

– Mas como saber onde acaba o amor-próprio e começa o orgulho? Em que ponto é que deixamos de ser os nossos curadores para ser malfeitores?

– Esse meu bem, esse é o Santo Graal da nossa felicidade.

 

 

ingratidão

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Aquela vil atitude dos mais fracos seres. Aquele sentimento que nem os animais reconhecem. O pior defeito que um Homem pode ter. A ingratidão é o antónimo de comunidade, é o veneno das relações humanas e o adubo do isolamento. Tristes são os ingratos pois não conhecem o doce sabor de retribuir e contribuir para a cadeia da solidariedade que sustenta a sobrevivência da humanidade.  Se puderes escolher os teus defeitos, não escolhas a ingratidão.

reaprende

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A cada dia que passa tudo muda. Por vezes de forma abrupta, outras de forma lenta, tão lenta que é imperceptível. Até ao dia em que acordas e já não te reconheces, não reconheces o lugar onde te encontras. Olhas para trás e só então vês o longo caminho que já percorreste. E é aqui, nesta paragem forçada, que percebes que não viste o caminho, não apreciaste as paisagens, não te deixaste perder em busca de unicórnios e arco-íris, não sentiste os cheiros inebriantes das primaveras em flor, não distinguiste os tons de azul do céu, do mar, dos olhos de quem te ama,  não ouviste as melodias daqueles que fazem o seu curso a cantar, não te apercebeste de quem se cruzou contigo e te levou na alma. Limitaste-te a seguir o trilho dos outros, sem descobrir o teu caminho. Chegaste a meio do trilho sem saber porque continuas a caminhar. E é neste despertar que te apercebes de tudo o que não percebeste. E então abres os olhos e com eles todos os  outros sentidos. Tens um novo caminho à tua frente, reaprende a caminhar…

ouve com os olhos fechados

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Há momentos na vida que acusamos um enorme desgaste, um cansaço, uma insatisfação. Não sabemos o que nos falta, ou o que queremos mas sabemos que falta alguma coisa e não queremos estar onde estamos.  Não há fórmulas secretas para  ultrapassar estas crises existenciais, cada um procurará a sua resposta onde e da forma que mais lhe parecer correcta. Refugiar-se  na serra num retiro de silêncio. Meditar. Fugir de tudo e todos numa viagem sem data de regresso. Ir à taróloga, astróloga, vidente, mãe de santo. Dançar num terreiro, converter-se a Deus, a Krishna, Buda ou ao Tony Robbins. Não há resposta certa, não há solução mágica. É um cliché mas a resposta está mesmo dentro de nós, só temos de descobrir a melhor forma de a encontrar. Feche os olhos e ouça o que tem para dizer.

 

nunca esquecer

 

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Oitenta almas presas por catorze dias num vagão à deriva por uma Europa destruída pela guerra. Sem comida, água ou casa de banho. Apartada do marido, trinta e cinco kilos e grávida de 7 ou 8 talvez 9 meses. O comboio pára naquele que era o pior de todos os destinos, o inferno dos infernos. O terror é tanto que o trabalho de parto inicia-se ali mesmo. No caminho entre o comboio e o campo de concentração, nasce um pequeno ser, 1,5 kilos de esperança, era tudo o que bastava. Aquela bebé linda, pura, imaculada veio ao mundo no  lugar mais pestilento à face da terra. O destino desta criança e da sua mãe seria a câmara de gás, mas a sorte ditou que o gás acabasse no dia anterior à sua chegada. E a sorte não acabaria aqui, três dias depois chegam os aliados e com eles a liberdade, ou pelo menos a hipótese de uma vida. O cárcere esse permanecerá sempre nas suas histórias.

Este relato é, infelizmente para a humanidade, verídico e, ouvi-lo na primeira pessoa é das experiências mais desconcertantes que podemos ter. Apercebermo-nos do nível de falta de humanidade a que um ser humano pode chegar é aterrorizador para aqueles que cultivam algo chamado consciência. Uma vénia a todos os que, tendo passado pelo inferno, fazem a dolorosa viagem de regresso, contando a sua história para que nós, Homens, não nos esqueçamos do que somos capazes.